Quando
o sol se despedia do dia, fiéis porteirenses lotavam a frente da Igreja Matriz
à espera da santa padroeira
O sol já se punha
quando fieis, dos mais variados recantos do município, desciam à rua José de
Alencar em procissão com a imagem da “excelsa padroeira”, como eles mesmos
preferem chamá-la, num cortejo que reunia outros santos da Igreja Católica.
Sob o som imponente da
fanfarra de Brejo Santo, e guiados pelo pároco, padre José Sampaio, os
religiosos, organizados ao lado direito e esquerdo das ruas, acompanhavam, ora
com cânticos, ora em silêncio, a passagem da santa, transportada num
“carro-andor” ornamentado com flores naturais e forrado com cetim branco,
milimetricamente costurado à mão.
No trajeto, que
percorria as principais ruas da cidade, nem cansaço, nem lamúria nos olhos dos
peregrinos. Gratidão, apenas. E desejo de elevar preces àquela que tomaram como
padroeira. Nas ruas, motoqueiros e motoristas paravam para dar passagem à
procissão, enquanto devotos se aglomeravam nas calçadas e nas fachadas das
casas. Alguns, menos contidos, deixavam escapar lágrimas. Outros se ocupavam em
registrar, em celulares e câmeras fotográficas, o cortejo religioso.
De volta à matriz,
aplausos se formavam em torno da imagem da santa, e fogos de artifício tratavam
de fazer as honras finais aos festejos alusivos do tradicional novenário do mês
de dezembro, tão aguardado pelos católicos porteirenses quanto a coroação de
Nossa Senhora, em maio.
FÉ QUE SUPERA FRIO E
LONJURA
Na madrugada da
segunda-feira, antes o que a luz do sol descortinasse o dia, numerosos peregrinos
(mais de 95 pelas contas do coordenador), se organizavam para a “Caminhada da
Fé” até a vizinha Brejo Santo. Nem o frio da madrugada nem lonjura de mais de
dezenove quilômetros, quando feito em algum meio de transporte, desanimaram os
fiéis.
Enquanto os peregrinos
voltavam da caminhada, com o sol dando sinal de sua imponência, perto das 7h30,
outros devotos já se dirigiam à Igreja para acompanhar a missa solene prevista
para as 9h. Foi preciso chegar cedo, para ficar num lugar que permitisse uma
boa visão da celebração. Às 8h, o público superava o número de assentos. Teve
quem se aglomerasse nas laterais, pressionados pela quantidade de pessoas. Havia
peregrinos dos mais variados recantos do município e até de outras cidades,
como Brejo Santo, Jardim e serra do Jamacaru.
Na abertura da
cerimônia religiosa, o bispo diocesano, Dom Fernando Panico, convidado pelo
pároco, padre José Sampaio, para presidir a missa, acenou, sorriu e ficou
entusiasmado ao saber da “caminhada da fé”, a qual chamou de “pequena romaria
não tão pequena”. Logo depois, elogiou a resistência dos participantes às
intempéries do horário escolhido para a peregrinação.
Em seu pronunciamento,
na homilia que durou pouco mais de dezesseis minutos, o bispo voltou a
parabenizar a devoção do povo porteirense à Imaculada Conceição. Também pediu
aos fiéis que continuassem a “esforçar-se para fazer da vida terrena um grande
sinal da presença de Deus, que salva”, ao lembrar que a experiência vivida por
Maria, à luz contemporaneidade, significa viver o dia a dia com simplicidade,
intensidade de amor e grande humildade.” Não pensem que para sermos cristãos de
verdade precisamos fazer grandes coisas. Não. Não. “A grandeza da nossa vida
cristã consiste em fazer o bem nas pequenas coisas, de todos os dias”, explicou
Dom Panico.
A missa solene também
contou com a participação do padre Vileci Vidal e do coral municipal.
Ao meio-dia, uma salva
de fogos cobriu a cidade, enquanto o hino de Nossa Senhora era entoado nos
alto-falantes da matriz. Voluntários se organizavam para preparar os andores
que levariam os santos, à tardinha, na procissão.
Os festejos alusivos a
santa padroeira de Porteiras, sentida no “gosto e na devoção do povo”, nas
palavras do pároco da cidade, só foram encerrados com a benção do Santíssimo,
seguidos de fogos de artifícios, por volta das 19h30, num momento em que os
fiéis, comovidos, projetavam, com preces de devoção e gratidão, o futuro.
Patrícia Mirelly –
Repórter Especial