sexta-feira, 31 de março de 2017

PEQUI ALIMENTA A ALMA DO POVO CARIRIENSE

                                     Aos 66 anos, Francisca de Souza cumpre um ritual que lhe acompanha desde criança:
                                                                    catar pequi na região serrana de Porteiras

Durante quatro meses por ano, de janeiro a abril, nativos da região do Cariri cumprem ritual transmitido de geração a geração. Homens e mulheres, jovens e idosos, andam incontáveis quilômetros por dentro das matas para colher a própria sobrevivência. A qualquer hora, seja dia ou noite, em grupo ou solitários, os catadores disputam cada espaço para conseguir o melhor apurado possível. O cenário lembra o de um garimpo, porém o ouro que brota da terra da Chapada do Araripe atende pelo nome de pequi.

“Se o Cariri fosse outrora trecho de terras, encravado num daqueles impérios, ou por outra na Grécia veneradora da natureza, teria igualmente a sua árvore sagrada – o pequizeiro. Mas estamos num país inteiramente cristianizado”, defendeu o escritor J. de Figueiredo Filho, no artigo “O Pequizeiro” (1939), numa comparação aos povos incas, no Peru, e os astecas, que veneravam a coca e o cacau, respectivamente. 

O povo da Chapada do Araripe também o considera como tal: "Nós não plantamos, quem tá zelando é a natureza, quem tá criando é Deus, então tá lá de graça para nós ir buscar", diz Ricardo da Silva, 41 anos, da Comunidade Quilombola dos Souza, em Porteira. Da mesma localidade, Francisco Sousa, 66 anos, refere-se igualmente ao presente da natureza: "Agora, o homem (atravessador) tá comprado barato, mesmo assim é vantagem, a gente não á comprando o pequi, tá é só caçando".

O fruto é responsável por uma cadeia produtiva protagonizada por centenas de pessoas. Não se sabe ao certo quantas são, mas encontramos várias delas durante nossa viagem ao Cariri, sobretudo em Crato, Barbalha, Jardim e Porteiras, onde se concentra um maior número de deles. Em geral são agricultores, que depositam no pequi a esperança para enfrentar anos consecutivos de seca.
Há os catadores, que garantem o sustento da família e os atravessadores, que pegam o fruto direto na fonte. Nesse comércio, negocia-se em milheiros. Mil frutos, no mês de fevereiro, quando a oferta cresceu, custavam cerca de R$ 80,00 na fonte. Alguns atravessadores comercializam no varejo, contudo quase sempre repassam para vendedores das barraquinhas das estradas, em mercados ou feiras do Cariri.
Há quem produz o óleo, a exemplo de Pedro Martins, de Jardim, no ofício há 50 anos. Outros capricham nos pratos culinários à base do fruto, sendo os mais famosos o baião de dois e a pequizada. E há os que pesquisam as propriedades (medicinais e cosméticas) desta planta nativa da Chapada do Araripe, cujo nome científico é Caryocar coriaceum.
“Essa espécie é exclusiva da nossa região. Na Europa, respeitam muito isso, aqui no Brasil não, acham que todo pequi é pequi. Não é não. É diferente do que existe em Goiás e Minas Gerais, por exemplo. O nosso tem mais óleo, o deles, mais açúcar. O nosso puxa mais pra cor creme e branca, o de lá é amarelo-ouro. Essas peculiaridades vieram de milhares de anos de evolução e precisamos valorizar”, afirma Willian Brito, engenheiro agrônomo e analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Precisa-se valorizar o próprio pequizeiro. Relatos de catadores e gestores do meio ambiente revelam a preocupação de as árvores serem preservadas ou mesmo de outras brotarem. Os versos em cordel de Willian Brito são um aviso: “O cristão que com carinho/O piqui cuida em plantar/Contribuindo pra fome/Da pobreza aliviar/Deus e nossos ancestrais/Haverão de abençoar”.
Bendito fruto

“Olha o pequi, hoje tá 10 reais o cento”. Assim, no grito, Elias da Silva vai atraindo a clientela no lado externo do Mercado Público do Crato. Era 20 de fevereiro, uma segunda, quando ocorre a feira semanal da cidade. “Um dia, o cento tá de 8 reais, outro de 10. Dá um pouquinho de lucro, chego a ganhar até 5 reais no cento, dá pra levar”, diz o vendedor. Em abril, ele volta a trabalhar com verduras, à espera do novo ciclo do pequi no mês de dezembro.
Para Elias ter esse apurado, há pessoas como a catadora Francisca Souza que passam o ano aguardando a safra. Aos 66 anos, cumpre um ritual que lhe acompanha desde os quatro no Sítio Vassourinhas, na Comunidade Quilombola dos Souza, em Porteiras. Começou a catar pequi com uns seis anos, mas promete que vai continuar por muito tempo: “Isso aqui é um entretenimento pra gente, pra não ficar pensando besteira, tá no mato tá melhor, né? Oxente, enquanto tiver saúde, eu venho”.
Há 18 anos no Mercado Público do Crato, Elias da Silva vende exclusivamente pequi enquanto durar a safra. Foto: Fernanda Siebra 
Parente de dona Francisca, Ricardo da Silva, 41 anos, residente na mesma localidade, caça o fruto quase todo dia. “A renda é muito boa, embora no momento esteja mais barato. Os atravessadores pagam R$ 3,00 pelo cento, e vendem por R$ 10,00, 15,00. A vantagem é que vêm buscar na porta da nossa casa”.
Quando a safra é farta, ele produz óleo e congela o fruto para vender mais caro na Semana Santa. Ricardo também gosta de comer o pequi, mas na infância não era chegado ao fruto: “Detestava até o cheiro. Fui aprendendo com minha mãe. Ela dizia que foi a papa que Nossa Senhora deu a nosso Senhor, e botei aquilo na cabeça, botei gosto. Hoje como de todo jeito”. Em Vassourinha, a safra começou em dezembro. Tardou mais um pouco pra florescer, porque, segundo Ricardo, tem a seca: “Se não chover, perde o carrego, morre muito pequizeiro. A safra deste ano foi fraca. Quando é boa mesmo, por dia se consegue até dois mil pequis”.
Maria Raimunda da Conceição, a dona Lia,  66 anos, cata pequi desde os 8 anos no Sítio Malhada Redonda, em Porteiras: “Com o pequizinho, a gente compra umas coisinhas, compra medicamento, paga prestaçãozinha também. Agradeço muito aos pequizinhos,  é baratinho, 3  reais o cento, mas mesmo assim serve,  né não?”. Foto: Fernanda Siebra
A maior dificuldade para os catadores, na avaliação de Ricardo, tesoureiro da Associação da Comunidade Quilombola de Souza, é ter de andar quilômetros e mais quilômetros para conseguir os frutos. Muitos fazem o percurso casa-mata-casa várias vezes ao dia para levar, aos poucos, o apurado. Acredita que se a comunidade formasse uma cooperativa talvez a renda fosse melhor. Assim como estão fazendo 22 moradores do Sítio Cruzeiro, no Crato, protagonistas do projeto Pequi Vivo.
Curiosidade nesta foto de Jackson Bantim: Três pequis e um formato de coração
Não muito distante do Sítio Vassourinha, há um acampamento do Sítio Barreiro Novo, em Barbalha, habitado, desde os anos 1990, somente durante a safra do pequi (de janeiro a março). No local improvisado, às margens da CE 060, em Barbalha, ficam cerca de 10 famílias, a maioria do Sítio Cacimbas, em Jardim. Quem se instala lá tem a vida diretamente ligada ao fruto nativo da Chapada do Araripe. Uns catam e vendem o pequi, outros só o revendem e seu Pedro Martins produz o óleo. É o único dali com este ofício.
Em outro barraco, encontramos a agricultora Iracir Bernadino, 42 anos, que acabava de regressar da mata: “Fomos ontem, eu, meu marido e mais três filhos. Dormimos lá debaixo de uma lona, com chuva e vento, mas trouxemos só 115 pequis”, comenta. E, em tom de protesto, vai logo dizendo: “Quero fazer uma denúncia. Antes, eu conseguia pegar muitos frutos, de 3 a 4 mil pequis na serra, mas agora a safra está diminuindo demais”.
Segundo Iracir, há grande mortandade de pequizeiros. “Se as autoridades não tomarem providência, infelizmente vai acabar. Por onde a gente anda, onde está desmatado há pequizeiro, mas aqui nas Cacimbas (Jardim) infelizmente não encontramos isso não”.
Acha que a legislação ambiental termina por prejudicar a atividade: “a mata é muito fechada, falta o gado na floresta, porque “gado remoi o pequi e ele mesmo aduba, e ali já é uma mudinha, quando chove”.
Nessa temporada, Iracir começou a vender em outubro, em uma barraquinha da estrada, em frente ao acampamento, mas o pequi vinha do Maranhão. Em janeiro, mudou-se com a família para o local. Mesmo com as dificuldades apontadas pela agricultora, ela comemora uma recente conquista: a compra do carro Pampa, que serve para transportar os frutos.
Entre os jovens do acampamento, merece destaque o neto de seu Pedro Martins, Osmar de Souza, 19 anos, que oferecia o fruto numa barraquinha às margens da rodovia: “Passo três meses aqui. Compro por R$ 5,00 e vendo por 10,00”. Ele até aprendeu a fazer o óleo com o avô, mas considera mais vantajoso comercializar o pequi in natura.
Aos 19 anos, Osmar  de Souza segue a tradição familiar e já trabalha com o pequi. Vende o fruto às margens da CE-060, entre Barbalha e Jardim . Foto: Fernanda Siebra  
Iracir, Pedro e os familiares deixaram o acampamento na segunda-feira, após comemorem o fim da colheita no Dia de São José, 19 de março. Em uma missa, agradeceram pelo fruto nativo da Chapada do Araripe. Agora, é esperar a próxima safra. Quando as famílias, principalmente o incansável Pedro, prometem se instalar novamente no acampamento Barreiro Novo.

Safra do pequi tem importante
papel sócio-econômico

A cadeia produtiva do pequi envolve centenas de pessoas na região do Cariri. Há os catadores, aqueles que, seja noite ou dia, estão sempre em busca do fruto que garantirá o sustento da família durante os meses da safra, entre dezembro e março. O preço varia conforme a oferta. No início e no fim da safra, valem mais. Há os atravessadores, que vão pegam o produto na casa dos catadores. Nesse negócio, fala-se em milheiros. Mil frutos, no mês de fevereiro de 2017, quando a oferta cresceu, estavam custando cerca de R$ 80,00 na fonte. Alguns atravessadores comercializam no varejo, mas geralmente repassam os frutos para os vendedores das barraquinhas das estradas ou em mercados e feiras da Região. No Mercado Público do Crato, por exemplo, o cliente teria de pagar R$ 10,00 por um cento. Há, ainda, quem produz óleo e pratos a base de pequi, além de pesquisas.
Textos: Germana Cabral e Cristina Pioner Fotos: Fernanda Siebra
 Fonte:Diário do Nordeste


domingo, 19 de março de 2017

SECRETARIA DE AGRICULTURA PROMOVE A I AGRO PORTEIRAS NO DIA 23

A Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente com o apoio da Administração Municipal de porteiras promove nos dia 23 de março dentro das festividades da Semana do Município 2017 a I AGRO PORTEIRAS – FEIRA DA AGRICULTURA FAMILIAR.

O evento acontecerá na Praça da Liberdade de 9 às 13hs e a finalidade é promover a troca de conhecimentos e inovações, dando maior visibilidade a Agricultura Familiar  com a abertura de novos mercados, fortalecendo assim o homem do campo.

A I AGRO PORTEIRAS conta com o apoio dos parceiros: SEBRAE, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Casa do Agricultor, Terra Fértil. Ubyfol, Ematerce, IFECT e ACOSIMO (Associação Comunitária do Sítio Moreira)


EXCLUSIVO: RONALDO ANGELIM FALA AO PORTEIRAS AGORA

Ronaldo Angelim participou das semifinais do torneio  de futebol em comemoração ao 62 anos de Porteiras neste sábado(18). Na oportunidade o craque falou com a equipe do Porteiras Agora.


Confira a entrevista e aproveite para se inscrever no nosso canal no you tube.


sexta-feira, 17 de março de 2017

O MÉDICO QUE CONTA HISTÓRIAS


Aos 86 anos, Napoleão Tavares Neves cultiva uma memória impecável, um currículo extenso e mil histórias de encantar. Autor de livros sobre o cangaço, cronista talentoso e memorialista por vocação, ele foi também um dos primeiros médicos a se estabelecer em Barbalha, apadrinhado por Pio e Leão Sampaio, que lhe ensinaram que Medicina se faz com o coração. Para a CARIRI, Napoleão resgatou relatos que a história oficial ainda desconhece e que lhe foram contadas pelo povo simples do sertão, gente que pediu a bença a Padre Cícero e que olhou nos olhos de Lampião.

“Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo…”, Socorro Neves interrompe o silêncio mal o carro sai de Barbalha, recitando todo o Salmo 90. Segurando as contas do terço entre os dedos, ela reza por uma viagem segura ao longo dos 137km até Porteiras, enquanto o marido, Napoleão Tavares Neves, leva no colo um estojo com estetoscópio e prontuário e fala com empolgação sobre o que vê na paisagem já seca de agosto. “Aquele é o ponto mais extremo do sul da Chapada do Araripe”, ele ensina. Depois se vira para o banco de trás e pergunta, apontando mais ou menos ao leste: “Já foi em Missão Nova? Todo mundo acha que a primeira igreja do Cariri é a Sé do Crato, mas é uma que foi construída pelos capuchinhos bem ali”. Já chegando ao destino, o doutor mostra um lugar no horizonte: “Ali nas Guaríbas morava Chico Chicote. Sabe a história de Chico Chicote? A manhã em que a tropa do Tenente Zé Bezerra o atacou, em 1927, foi uma verdadeira epopeia nesse sertão”.
O rosário de Socorro durou a distância entre Missão Velha e Brejo Santo, mas a aula de geografia e história com Napoleão, se deixar, dura um dia inteiro. Naquela manhã de domingo, ele visitava as irmãs, Ranilda e Romilda, no distrito do Saco, na casa onde seu pai construiu um dos oito engenhos de rapadura que adoçaram a economia de Porteiras, quando este ainda era um distrito de Jardim. Porteiras tornou-se um município independente, depois veio a ser rebaixado novamente a distrito, ligando-se à cidade de Brejo Santo até se emancipar de vez, em 1953. O sítio foi basicamente batizado pela própria Chapada do Araripe, que o envolve como em um saco – visto de cima, é como se tivessem comido a Chapada em uma dentada. A casa de Joaquim Neves e Maria Tavares, pais de Napoleão, foi erguida justamente no recôndito desse U de 900 metros de altura, um semicírculo de cerca de 20km de comprimento, oito bocas d’água e uma imensidão verde, resistente às mais duras secas.
Do paraíso onde Napoleão passou os primeiros anos de sua infância ainda se avista, a duas léguas, a casa de Manoel Rosendo, seu avô materno, conhecido como Né Rosendo, para onde o menino corria todas as manhãs, montado em um cavalo de pau. Agora octogenário, Napoleão apoia uma bengala na mão e, na outra, carrega seu kit médico, aguardando a oportunidade de realizar uma consulta. Nem o chão entre as duas casas é mais o mesmo, já que a erosão e as chuvas torrenciais que desceram da serra nesse século que se passou criaram morros na área onde antes pastavam 800 cabeças de gado e existia uma plantação de cana-de-açúcar que era moída para mais de 1.500 engenhos do Cariri.
TODA A SABEDORIA DO MUNDO
Quando deu à luz Napoleão, no dia 17 de setembro de 1930, Maria já sofria há três dias as dores do parto. “Mas, também… Com uma cabeça grande dessas!”, diz o doutor mostrando o chapéu número 60, feito sob medida, e caçoando de si mesmo. O parto difícil foi feito por Pio Sampaio, médico que anos depois trabalharia com o menino que ajudou a pôr no mundo. Napoleão nasceu na fazenda do avô paterno, o Coronel Napoleão Franco, no Sítio Belo Horizonte, em Jardim, quando a cidade era só um curto trecho que começava na ponte sobre o Rio das Piabas e acabava na Rua da Baixa.

Jardim e Porteiras são cidades vizinhas, separadas pela serra alta, por onde a estrada faz o longo contorno que Napoleão percorria a cavalo. Nos anos em que viveu aos pés da Chapada, ele brincava de correr entre as caldeiras do engenho e de acompanhar os vaqueiros na lida. A convivência com os sertanejos que trabalhavam no Saco marcou a personalidade do pequeno Napoleão, impressionado com as histórias do cangaço, que para sempre assustariam sua mente de menino e, mais tarde, formariam o historiador que ele viria a ser.
de menino e, mais tarde, formariam o historiador que ele viria a ser.
No sítio Saco com as irmãs, Romilda e Ranilda.
Montado em seu cavalo, ele fingia ser vaqueiro também, assistia aos aboios e pegas de boi, levava as reses para pastar e comia o típico almoço do sertanejo: farinha, rapadura e carne assada. “A carne do alforje é a mais gostosa do mundo!”, ele diz com intensidade, quase gritando, e explica o segredo: o sal impregnado no alforje sujo é o que dá o sabor, muito melhor do que a carne da cozinha, com o sal semeado. Deitados na bagaceira do engenho, os trabalhadores do Saco descansavam, admirando o céu estrelado, e aí então “a conversa truava até uma hora da manhã”, ele recorda. Eram pelejas de cangaceiros, estórias de trancoso e até aulas de astrologia.
As falas mais marcantes daquele tempo vieram de Antônio Farosa, um velho caboclo que parecia possuir toda a sabedoria do mundo. Sobre as estrelas cadentes, ele alertava a Napoleão: se aquela estrela bater em outra, o mundo se acaba. “E o que é que eu faço?”, ele perguntava. “Você reza: Deus te guie, Deus te guie, Deus te guie!”, Farosa ensinava a evitar uma hecatombe. “Eu ficava morrendo de medo, pensando: ‘eita rebuliço! Se ela bater e o mundo acabar, eu tô lascado!”, Napoleão ri. Mas nem só de peripécias vivia o velho sábio. Ele passou para Napoleão todo o conhecimento que tinha do Cariri – mística, natureza e cangaço.
O PAÍS DAS ALMAS
“O Saco é o país das almas. Lá todo mundo vê alma”, Napoleão explica antes de contar a mais estranha de todas as histórias que ele presenciou, “A única vez que eu vi darem uma surra num defunto foi lá”. O fato aconteceu enquanto ele acompanhava o carregamento do corpo de um homem que morreu empurrando lenha no talhado do engenho. “Eles vinham descendo com o defunto em uma rede, até que um deles reclamou: ‘o defunto tá pesaaando’. Aí o mais sabido gritou: ‘Para, para, para! Isso é porque o diabo não quer que a gente leve ele pra igreja. Aí se escancha em cima da rede e faz pesar’. Eu fiquei todo arrepiado quando ele disse isso. Depois entrou no mato, tirou um galho de pau e deu uma pisa no morto. Enquanto ele dava, os outros descansaram”, contou. Quando testaram o efeito da surra, alguém elogiou: “Ah, agora tá manêro”.
Aos 12 anos, acompanhando o aboio de 200 reses de uma fazenda a outra, Napoleão viu outro acontecimento, no mínimo mágico, digno de passagem em livro de Guimarães Rosa. A caravana se deparou com a caveira de um boi morto na estrada e, em vez de seguir caminho, todas os bois se puseram em torno do corpo do bicho e choraram. “Uma coisa que eu nunca vi na minha vida. A coisa mais linda. Os bois cavando em torno do irmão e urrando. Todo o gado, sem faltar um. Os vaqueiros então tiraram o chapéu, puseram no peito e baixaram a cabeça”. Maravilhado com o Cariri, o menino Napoleão começou a desconfiar que havia muita história a ser contada. Ele então adquiriu os hábitos que definiram sua personalidade e serviram para resgatar memórias dos caririenses: ele aprendeu a perguntar e a ouvir. Em sua biblioteca, uma estante que vai do chão ao teto guarda quase duas mil crônicas que já foram lidas em rádios de Barbalha e Crato, contando o que ele escutou ou viu em seus 86 anos de vida.
Se Napoleão não conseguia dormir, amedrontado pelos cangaceiros, não haveria como fugir: a sua avó materna, Ana Pereira Neves, a Donana, foi madrinha de Luiz Padre, o famoso cangaceiro de Serra Talhada. Para completar, o Saco era passagem de quem ia para Juazeiro do Norte através da Chapada. O caminho de Lampião no Cariri era sempre o mesmo: ele entrava por Macapá (atual Jati), ia direto para a Fazenda Piçarra (onde morava o amigo Antônio Teixeira Leite), subia a serra pela Ladeira da Salva Terra (entre Brejo Santo e Porteiras, onde Napoleão morava), até chegar na Serra do Mato (entre Barbalha e Missão Velha). Para entender a peregrinação do rei do cangaço e seus cabras, Napoleão recorria ao mapa sempre que ouvia as histórias da avó. “Donana me contava muita coisa e eu fui gravando tudo na cabeça”, recorda. Devota do Padre Cícero, ela se comunicava com o sacerdote por cartas. Uma correspondência em particular, Napoleão se recorda. Donana escreveu se lamentando: “Meu padrim, não posso subir ladeira, que me sinto cansada”. Ao que Cícero respondeu: “Isso é anemia. Vá em Porteiras e compre ferro em pó”. O doutor pondera: “Ele era muito prático, muito inteligente – pra a época e pra onde vivíamos”.
A terra encantada do Saco, em Porteiras, onde Napoleão viveu a infância.

NO CAMINHO DE LAMPIÃO
Quatro anos antes de Napoleão nascer, Lampião passou pela casa de Né Rosendo pedindo para deixar sua montaria descansando e pegar emprestados oito cavalos, para chegar bem apresentado em Juazeiro do Norte. Obviamente, Manoel não negou. Pediu para o filho Rosendo Miranda, então com oito anos, ir ao curral buscar os bichos para o cangaceiro. Esperto, o menino tentou uma façanha arriscada: escondeu os cavalos que ele mais gostava e trouxe oito burros de cambito, que Lampião aceitou. A cozinheira da casa de Né, Antônia Lúcia, contou a Napoleão outra passagem de Lampião pelo Saco: quatro de seus cabras se juntaram ao temido Horácio Grande para roubarem a fazenda. Antônia e Manoel, armados com os dois únicos rifles da casa, colocaram os homens para correr. José Roque, também morador do avô, contou a ele que, em 1927, andando pelo meio do mato, entre Porteiras e Jardim, foi surpreendido pelo bando de Lampião. Roque só conseguiu fugir quando começou um tiroteio entre os cangaceiros e policiais que apareceram de repente.
Em 1938, Lampião morreu em Sergipe enquanto Napoleão acompanhava tudo arrastando o dedo indicador pelo mapa do Nordeste e ouvindo as narrações através do único rádio de Porteiras – o da sua casa. “Eu soube pela voz de João Ramos, da rádio PRE9, que Lampião tinha morrido na grota dos Angicos”, recorda, com uma memória espetacular. No ano seguinte, forçado a largar as brincadeiras no canavial e as viagens com os vaqueiros, Napoleão se mudou para Jardim, a fim de estudar. A tia Beatriz Neves, professora normalista na cidade, preferiu educar o garoto em sua casa, em vez de mandá-lo para a escola. Nos anos que se seguiram, Napoleão foi alfabetizado, se preparou para o exame de admissão no ginásio e acompanhou o desenrolar da II Guerra Mundial pelo rádio, correndo sempre para o mapa múndi. Foi quando descobriu que o mundo era maior do que o vale encantado do Saco.
Aprovado no exame de admissão no Colégio Diocesano, ele se mudou para o Crato, de onde voltava a cada 15 dias. O velho Farosa ficou sendo o portador que o acompanhava no trajeto a cavalo. Saindo do Saco às 5 horas da manhã, os dois chegavam no Crato às 17h. Era um dia inteiro de cavalgada e muita história, enquanto o caboclo sábio ia deixando seu conhecimento com o amigo ainda adolescente. Em um desses dias, descansando na mata em Barbalha, Napoleão viu um morro com cinco cruzes. “O que é isso, Farosa? É um cemitério?”, ele perguntou. “Não. Aí estão enterrados os Fuzilados do Leitão”, explicou onde estavam os corpos de Lua Branca e outros quatro homens supostamente envolvidos com o cangaço, fuzilados em 1928. Lua Branca era o último dos irmãos cangaceiros de Barbalha que ficaram conhecidos com Os Marcelinos. Bom de Veras e João 22 já haviam sido assassinados, sobrando apenas o mais novo deles. Quando a Associação Pró-Memória de Barbalha quis reconstituir o local onde os fuzilados estão sepultados, Napoleão foi a única pessoa a saber onde estavam.

quarta-feira, 15 de março de 2017

TRABALHADORES DO CARIRI PROTESTAM CONTRA REFORMA NA PREVIDÊNCIA INTERDITANDO A BR-116

Nem a chuva atrapalhou a manifestação às margens da BR-116. (Foto: Divulgação)
Cerca de 2 mil pessoas representando movimentos sociais, sindicatos e paridos políticos da Região do Cariri participaram dos protestos contra a reforma da Previdência proposta pelo Presidente Michel Temer, ocorridos em todo o Brasil nesta quarta-feira (15).

 A principal manifestação ocorreu na BR 116, nas proximidades do município de Brejo Santo, com o bloqueio da rodovia durante duas horas e meia, por um grupo de aproximadamente 2 mil pessoas.
Os participantes vinheram de vários municípios da região, sendo grande maioria de trabalhadores rurais indignados com os prejuízos que a PEC 248 representa para a aposentadoria da categoria. Mas havia também bancários, comerciários, professores, estudantes e servidores públicos de várias categorias.

A paralisação do trânsito foi responsável por formar uma fila de carros que chegou a atingir mais de 5 quilômetros para cada sentido da BR 116. O trânsito foi desbloqueado por volta das 11h30, sem nenhum incidente.


Fonte: Flávio Pinto News

GUILHERME LANDIM PARTICIPA EM BRASÍLIA DE DEBATE SOBRE VAQUEJADA

                   Guilherme Landim na Câmara dos Deputados
A Comissão Especial da Câmara dos Deputados Federais, esteve reunida nesta quarta-feira (15/mar) para deliberar sobre Vaquejadas, em uma audiência pública, a pedido do relator, Deputado Paulo Azi (DEM-BA). O colegiado analisa as propostas de emenda à Constituição (PEC) 270/16 e 304/17.

A PEC 270/16 classifica os rodeios, as vaquejadas e suas expressões artístico-culturais como patrimônio cultural imaterial brasileiro. Dessa forma, ficaria assegurada sua prática como modalidade esportiva.

Já a PEC 304/17 desconsidera cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais previstas na Constituição e registradas como integrantes do patrimônio cultural brasileiro. A condição para isso é a regulamentação em lei específica que garanta o bem-estar dos animais.

Guilherme Landim
O ex-prefeito de Brejo Santo-Ce, Guilherme Landim, é um dos principais defensores da vaquejada. Na sua participação em audiência pública em Brasília, Guilherme aproveitou a oportunidade para ressaltar a importância da vaquejada como um dos grandes geradores de emprego, renda e entretenimento para o nordeste.
A audiência foi realizada na Câmara dos Deputados em Brasília.

 Fonte: O kARIRI


segunda-feira, 13 de março de 2017

APROVADO REAJUSTE SALARIAL DOS SERVIDORES MUNICIPAIS!


No Plenário Vereadora Nininha Dantas, a inspiração feminina da primeira vereadora eleita na história de Porteiras para que o presidente Marcondes Gomes de Lima dedicou  a Sessão às mulheres, a sessão ordinária desse  fim de semana  pelo objeto da passagem do seu Dia Internacional, em 8 de Março. Citando fatos marcantes na vida pública do país, o presidente do Legislativo assim procedeu.

Na apresentação da pauta do dia, Marcondes deliberou as Mensagens Nº 150 e Nº 151, do Poder Executivo Municipal, a primeira, tratando do Projeto de Lei que reajusta remuneração dos Servidores (diversas categorias), e a posterior, sobre o Piso Salarial dos Profissionais do Magistério (Professores), por meio de Alteração do Anexo I da Lei Municipal Nº 374, de 16 de novembro de 2012 - Plano de Cargos e Carreiras dos Profissionais de Educação Básica do Município de Porteiras, Estado do Ceará. Posto e votação por caráter de urgência, as matérias foram aprovadas por unanimidade  (9x0, já que o vereador José Nilton Santos Cavalcante não compareceu à Sessão e o presidente só vota em necessidade de desempate). Assim, os servidores efetivos passarão, após sanção do prefeito municipal, a ter seus vencimentos reajustados em 6,47%. 

Já os profissionais da Educação, de acordo com o Piso Nacional do Governo Federal, na razão de 7,64%, valores que serão calculados de acordo com carga horária do professor (horas trabalhadas), qualificação docente (magistério, graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado, etc.).

Fonte: Parlamento Porteiras




terça-feira, 7 de março de 2017

EDUCAÇÃO PORTEIRENSE ADOTA MEDIDAS PARA REDUÇÃO DO MULTISSERIADO NAS ESCOLAS!

O fim do multisseriado - várias séries numa mesma sala coordenadas pelo mesmo professor -  nas escolas de educação básica está se desenhando como alternativa de melhor rendimento de alunos e professores, e otimização do processo de aprendizagem. Esta é a constatação feita pela Secretaria Municipal de Educação de Porteiras que, entre outros fatores, implica na fusão de turmas regulares do ensino fundamental.

Após um criterioso levantamento feito pela equipe pedagógica do município, tendo por base o número de alunos matriculados em todas as unidades da rede municipal, foi constatado que a baixa quantidade de estudantes por série/ano - a maioria com alunos de 1º, 2º e 3º com idades diferentes na mesma sala - tornou inviável a manutenção de escolas, como a Escola Antônia Miranda Campos, da Vila Saquinho, que só contava com um universo total de 22 estudantes; A Escola Pedro Cazuza Sobrinho, da Vila Barreiros, com apenas 12 no total, e Escola Senhor de Barros, do sítio São José, que tinha apenas 15 alunos juntando todas as séries. Tal fato motivou a transferência da clientela destas unidades às escolas mais próximas, como explicou a secretária municipal de Educação, Eliana Alberto de Figueiredo Alves a este Blog.

Assim, alunos e professores da Escola Antônia Miranda Campos, da Vila Saquinho passam a integrar o núcleo da Escola Joaquim Miranda Campos, do sítio Marrocos; Os que eram da Escola Pedro Cazuza, da Vila Barreiros, agora são agrupados à Escola José Vilmar Anselmo, do sítio Moreira; Quem estudava e consequentemente quem lecionava na Escola Senhor de Barros, do sítio São José, foi lotado na Escola Maria Gonçalves Dantas, do sítio Sanharol. Segundo Eliana, para esta tomada de decisão, a Administração Municipal levou em conta a logística das escolas, localização em relação às que foram desativadas e condições adequadas do transporte escolar de professores e crianças. Nenhum professor, diretor ou coordenador pedagógico terá qualquer tipo de prejuízo com a mudança, uma vez que passam a atuar nas novas unidades com as mesmas funções, e especificamente nestas escolas, com séries e faixas etárias regularmente distribuídas sem distorção de idade. Mas a queda no número de crianças em idade escolar não ocorreu apenas na zona rural. Na sede do município, turmas da Educação Infantil do Instituto João Filgueira Sampaio agora passam a funcionar juntamente às turmas da Escolinha Crescendo Feliz, no bairro das Populares.
        Eliana Alberto
Secretária de Educação

Mesmo admitindo não ser uma decisão simples, a secretária comemora o fato de poder nivelar a clientela por série/idade aprimorando a prática pedagógica e o rendimento de todos os atores envolvidos. A grande importância argumentada pela secretária é que o município toma todas as decisões pensando na qualidade do ensino, no conforto e comodidade dos jovens alunos e na melhor condição de trabalho dos professores.

 Fonte: Blog do Luís Carlos