Foto: divulgação/Governo Municipal de Porteiras |
Particularmente, não conheci dona Pinheira; mas foi por meio dela que tive o primeiro encantamento pelas palavras que são hoje meu objeto de trabalho.
Era meados de março, período em que Porteiras celebra a emancipação política. A tarefa da escola pedia para reescrever o hino municipal, observando a construção das estrofes. A letra era, justamente, de Dona Pinheira, a quem eu só conhecia de ouvir falar.
À sombra de uma mangueira, sentindo o vento suave da chapada, debruçada em um caderno de escola, meus olhos de menina se encantaram:
"Ao sopé da Araripe frondosa,
qual tapete de cor verde-anil,
brotam fontes e belas cascatas,
batizando um rincão do Brasil;
engastada qual joia bem rara
a cidade se ergueu majestosa,
na autonomia tão cara
que lhe trouxe a gente valorosa [...]"
Essas palavras, tão bem escolhidas e ritmadas em verso, a poética chama de "apuro estético", definição que eu só conheceria depois. Envolvida e movida por elas, não só apreciei o sentido, ao manuseá-las no dicionário, como aprendi a colecionar outras em restos de caderno, conforme avançava a minha experiência de leitura. Tal foi a inclinação, que me tornei jornalista.
Nunca tive ocasião de contar isso à dona Pinheira, a quem vi umas poucas vezes nas festas patronais de Nossa Senhora da Conceição. O sobrenome dela me intimidava. Ledo engano.
Que Deus a receba na Glória, para onde vão as pessoas ilustres!
Por Patricia Mirelly, jornalista pela Universidade Federal do Cariri
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