Cidades do interior do Brasil oferecem as melhores
condições de ensino e aprendizagem para crianças e adolescentes, deixando para
trás as capitais. O quadro foi mostrado pelo Índice de Oportunidades da
Educação Brasileira (IOEB), um levantamento inédito sobre o que vem sendo
praticado nos municípios do país. Sobral, Groaíras e Porteiras, ambos no Ceará, são os mais bem classificados. Numa
escala de zero a dez, obtiveram notas 6.1, 5.9 e 5.9, respectivamente. Entre os dez primeiros, Sobral é o maior de
todos com uma população estimada de aproximadamente 202 mil habitantes, segundo
o IBGE. Enquanto isso, São Paulo é capital mais bem avaliada. Porém, com a nota
4.8, ela aparece na 1.387ª posição no ranking geral de cidades.
O índice foi desenvolvido pelo Centro de Liderança
Pública, com apoio do Instituto Península, da Fundação Roberto Marinho e da
Fundação Lemann, e tem como diferencial o estabelecimento de um valor único,
abrangendo da educação infantil ao ensino médio, das redes públicas e privadas.
– Ao reunir todas as redes e etapas, estamos
dizendo o que aquela localidade oferece, de fato. Há cidades, por exemplo, que
têm poucas escolas municipais e, por isso, aparecem bem na avaliação desse
segmento. Mas, quando as crianças passam para a rede estadual, a qualidade
despenca. Da mesma forma, há colégios particulares que fazem turmas especiais
ou redes que excluem alunos em função de repetências. Tudo isso, pode gerar
interpretações equivocadas quando a avaliação é isolada. Um índice único
sintetiza a qualidade da oferta como um todo – justifica Fabiana de Felicio,
uma das autoras do estudo.
A metodologia do IOEB começou a ser desenvolvida em
2014 e resultou em um índice formado a partir da junção entre resultados
educacionais – medidos pelo Ideb no anos iniciais do ensino fundamental e
finais do ensino fundamental, além da taxa líquida de matrícula do ensino médio
– e insumos educacionais, verificados através da escolaridade dos professores,
do número médio de horas aula/dia, da experiência dos diretores e da taxa de
atendimento na educação infantil.
O estudo também divulgou as médias por estado. São
Paulo tem a melhor situação, com nota 5,1, seguido por Minas Gerais, com 5 e
Santa Catarina também com 5. No último lugar está o Pará, com 3.5. O Rio de
Janeiro está na 15ª posição, com 4.1, atrás do Acre e de Tocantins.
Segundo o coordenador de projetos da Fundação
Lemann, Ernesto Martins Faria, como as cidades menores têm a gestão da educação
mais centralizada, os resultados são mais uniformes, para o bem e para o mal.
Para o coordenador da Campanha Nacional pelo
Direito à Educação, Daniel Cara, as cidades com os melhores índices são aquelas
que alcançaram um equacionamento financeiro razoável via Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (Fundeb).
– São cidades que depositaram no fundo valores
equivalentes ou inferiores ao que resgataram depois, em função do número de
alunos matriculados na rede pública – observa, destacando que as cidades
menores são muito sensíveis a esse mecanismo financeiro. – As grandes cidades
ficam no meio do caminho porque têm mais recursos, mas também possuem muitos
desafios.
EXEMPLOS A SEREM SEGUIDOS
Segundo Fabiana, uma das vantagens do indicador é a
possibilidade de mapear modelos e políticas educacionais que merecem ser
replicadas. Ela estima que, pelo menos, os 5% de municípios mais bem colocados,
o que corresponde às 262 primeiras posições, têm muito a dizer.
– Enquanto estávamos produzindo os estudos, lembro
que um dos colaboradores disse que Porteiras,
que ficou em terceiro lugar, bebeu na fonte de Sobral. Isso mostra como essa
colaboração pode trazer resultados – pontuou.
Fabiana disse também que, através dos resultados da
pesquisa, é possível compreender que as localidades que se destacaram são
aquelas que aliaram recursos financeiros e boa gestão. Fonte: Extra
– Além de ter dinheiro, é preciso
geri-lo muito bem. Há municípios que recebem royalties do petróleo, mas não
tiveram bons resultados – compara.
Ao comentar a natureza do índice, Daniel Cara
destacou a iniciativa como positiva, mas sugeriu que ela poderia ser
incrementada com outros fatores.
– Acho que questões como infraestrutura, número de
alunos por turma e salários dos professores fazem falta. Não consigo visualizar
uma melhoria em escala da educação sem considerar o salário e a carreira dos
docentes – ilustra. – O conceito de oportunidades educacionais trabalhado por
esse novo índice avança em relação ao Ideb, mas ainda não considera elementos
centrais.
Fonte: Jornal Extra
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