UMA SENHORA PROFESSORA

Era o primeiro dia do primeiro ano do ensino médio. Alunos afoitos, ainda que com uma visão turva do mundo e da vida. Dona Socorro Linard, com seu jeito ímpar de ensinar, nos lançara um desafio: interpretar a canção “Tocando em Frente”, de Almir Sater e Renato Teixeira. Tivemos um trabalho danado, mas conseguimos. E foi uma "senhora aula", como ela mesma gostava de chamar.

Passados seis anos, essas lembranças continuam frescas na minha alma e no meu coração. Dona Linard faz falta, muita falta por aqui, mas o que ela me ajudou a compreender continua valendo: a vida pede da gente muita coisa, mas o que ela quer mesmo é que a gente aprenda e reaprenda, sempre, a tocar em frente. Apesar do fardo que enverga e inclina, apesar da desesperança, dos desafetos e dos desamores, apesar da travessia espinhosa, compreender a marcha, ir tocando em frente. Eis o nosso desafio de todos os dias.

Dona Linard também nos ensinou que nenhum muro deve nos separar. Que precisamos mesmo é construir pontes por onde a solidariedade, a amizade, o cuidado e o afeto possam sempre atravessar. Que mesmo com cores diferentes, cabelos diferentes, jeitos diferentes, opiniões diferentes, juntos, podemos construir um mundo mais fraterno, mais leve e mais bonito.

Lembrar às aulas de Dona Socorro Linard renova as minhas esperanças num mundo melhor. Apesar da ausência de compaixão, de amor, de ética, é possível continuar acreditando, porque é de utopia que devemos alimentar a nossa alma e o nosso coração, como ela mesma ensinava pra gente. De utopia era feito o coração de Dona Linard. E, ainda hoje, é a utopia que move a mim e a tantos outros alunos que souberam beber da fonte.

Como escreveu a poetisa de Goiás, Cora Coralina, não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos. E Dona Linard continua viva. Nas minhas lembranças. Na minha alma. No meu coração. Em mim. Em ti. Em nós.

Patrícia Mirelly é estudante do penúltimo semestre de Jornalismo na Universidade Federal do Cariri – UFCA.